quarta-feira, 9 de dezembro de 2009




CAPELA DE SÃO BENTO
(Quinta de São Bento - Ribeira de Nisa)



A referência mais antiga que conhecemos à capela de São Bento deve-se ao padre Diogo Pereira Sotto Maior (1616). Descrevendo algumas quintas situadas nos arredores da cidade de Portalegre, depois de elogiar a grandeza passada da propriedade de Manuel de Sousa (hoje chamada "dos Cantarinhos"), afirma a dado passo:
"Além desta, está outra quinta quasi dous tiros de besta de distância, que se chama do Azambuja, onde está ua ermida do bem-aventurado Sam Bento, que também foi mui célebre e nomeada neste reino, quando seu dono a pessuía. Agora leva quasi o caminho da que acima fica tratado, porque também está meia arruinada" (Sotto Maior, 1984: 55).
A capela de São Bento, integrada na quinta do mesmo nome, propriedade de D. Isabel Maria Malato de Sousa, está hoje em bom estado de conservação. Apresenta, com poucas alterações, a arquitectura e a decoração com que foi edificada, provavelmente na segunda metade do século XVI.
Orientada para nordeste, a única fachada virada para o exterior é extremamente simples, lateral e a sudeste. Para além da porta, possui apenas uma janela de iluminação e uma pequena sineira de alvenaria. A entrada faz-se por um pequeno pórtico em granito chanfrado, pintado de amarelo, sobre o qual se ergue um interessante registo em azulejos polícromos de finais do século XVIII, assente sobre pedestal em forma de trono constituído por um conjunto de azulejos de figura avulsa representando flores. No painel figura a efígie do orago da capela, São Bento de Núrsia.








O interior é de pequenas dimensões. É coberto por uma abóbada de berço, com caixotões pintados de azul, decorados com estrelas pintadas de branco e molduras da mesma cor. Sem capela mor, o espaço de celebração está elevado em relação ao dos fiéis, acedendo-se a ele por três degraus de granito.
O retábulo, em talha polícroma, é de simples mas interessante factura, sendo certamente contemporâneo da construção da capela, embora repintado. Dentro do estilo comum na segunda metade de quinhentos, apresenta ao centro um nicho com a imagem do padroeiro, com pedestal já do século XVIII, ladeado por duas peanhas onde permanecem ao culto imagens de Nossa Senhora do Rosário (em madeira estofada, já barroca) e de Santa Rita (de roca). O conjunto é coroado por um tímpano semicircular, onde figuram alguns dos atributos de São Bento (a mitra e o báculo). A banqueta do altar é setecentista.
No lado esquerdo, em frente à porta de entrada, a capela possui ainda um púlpito com grades de madeira torneada e base de mármore. De destacar também os rodapés constituídos por azulejos azuis e brancos, do século XVII.
Na parede oposta ao altar mor rasgam-se dois vãos. Ao nível térreo a entrada para a antiga sacristia. No nível superior uma tribuna, com grade semelhante à do púlpito.
Segundo nos contou a proprietária, a Quinta de São Bento terá servido de refúgio a uma comunidade de beneditinos em fuga, certamente após a extinção das ordens religiosas (1834). Como o abade estava paralítico, foi necessário abrir a referida tribuna para que ele pudesse assistir aos serviços religiosos.
Tendo em conta a arquitectura pouco comum desta capela em relação ao modelo geralmente adoptado para os pequenos templos particulares, esta lenda coloca-nos dúvidas sobre qual teria sido realmente a origem deste edifício para além da sua (re?)construção no século XVI. As hipóteses seriam várias. Infelizmente não podemos confirmar por agora nenhuma delas.

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