quinta-feira, 4 de outubro de 2007



IGREJA DE SÃO JOÃO BAPTISTA
(Alegrete)


 
Sendo por agora impossível encontrar uma data precisa para a primeira edificação da igreja de São João Baptista, matriz da vila de Alegrete, parece-nos segura a hipótese da sua origem remontar ao século XIII, uma vez que nesta centúria foi sede de uma das primeiras comendas templárias no Alto Alentejo (cf. Rosa, 2001: 60)
Construída no interior do espaço fortificado, mesmo à porta principal das muralhas e com entrada por um pequeno adro, o templo que actualmente podemos encontrar é, no entanto, fruto de uma reconstrução ocorrida no século XVI, correspondendo em grande parte a uma interpretação popular dos cânones do chamado "Estilo Chão", expressão dominante do decoro e da austeridade propostos pela Contra-Reforma tridentina. Alguns elementos arquitectónicos e decorativos correspondem, porém, já ao século XVIII.
Da construção medieval pouco ou nada resta, embora seja muito provável que o construtor quinhentista tenha mantido o espírito da planta gótica. Supomos assim (mas sem base documental) que o templo original teria também três naves, com igual número de capelas. Não será difícil pensá-lo, tendo em conta que este modelo foi glosado até à exaustão por todo o país, com exemplos na nossa região (a igreja de Santa Maria de Marvão, vg.). Procedentes da igreja primitiva deverão ser duas das imagens expostas ao culto, ambas em mármore policromado: São Sebastião, do século XV, e Santo António, de inícios de quinhentos (cf. Keil, 1943: 150).
A fachada actual da igreja, virada a nascente, é bastante simples. Alongada, é composta por três corpos, separados por pilastras, correspondentes a igual número de naves no interior; no centro rasgam-se a porta de entrada e uma janela de iluminação. A sul possui uma torre sineira com quatro olhais, rematada por uma pirâmide pentagonal e decorada por quatro pináculos em alvenaria, decoração empregue igualmente na ornamentação do corpo mais a norte.
O interior é, como se disse, é composto por três naves (a que corresponde igual número de capelas fundeiras, intercomunicantes). Os arcos de volta inteira que as dividem assentam sobre colunas toscanas de granito.
A decoração interior da igreja corresponde a alterações ocorridas durante o século XVIII.
A capela-mor, com tecto apainelado quinhentista, possui um retábulo rococó com estrutura muito semelhante à de outros de execução popular existentes na região: trono central (neste caso resumido apenas à abertura) e sacrário, ladeados por dois pares de colunas marmoreadas e por duas peanhas, encimado por um frontão (aqui contracurvado). Nele são veneradas imagens de São João Baptista (uma boa peça do século XVI, com ligações à arte flamenga), de Cristo Crucificado e do Menino Jesus, do tipo "Salvador do Mundo".



Os retábulos das capelas colaterais seguem o mesmo figurino, embora com menor qualidade artística. Possuem camarins envidraçados que resguardam as imagens dos respectivos titulares: do lado do Evangelho o Senhor dos Passos (outrora da Visitação, pertencente à Misericórdia de Alegrete) e, do lado da Epístola, Nossa Senhora da Alegria (antigamente "do Rosário") - ambas de roca. Também a norte existem mais três pequenos altares. O primeiro, dedicado a São Miguel, possui uma pintura sobre tela, com interesse meramente iconográfico, representando a salvação das almas do Purgatório. O segundo, em tosca alvenaria, era dedicado no século XVIII a Santo António, sendo actualmente da Senhora de Fátima. Do terceiro é titular Nossa Senhora do Socorro, representada através de uma escultura maneirista estofada e policromada, dotada de uma intensa expressividade.
Sem coro, esta igreja paroquial de Alegrete possui ainda o seu baptistério, situado no piso térreo da torre sineira, embora actualmente (seguindo os ditames do Concílio Vaticano II) a pia baptismal em granito se encontre à direita da capela mor. O púlpito, ainda observado por Luís Keil no seu lugar ("à esquerda, [...] encostado à primeira coluna junto à capela-mor" (Keil, 1943: 150)), já não existe. De entre os elementos arquitectónicos deste templo merecem ainda referência duas pias de água-benta em mármore, assentes sobre finos colunelos - obras delicadas do século XVI.Para além de tudo isto, o recheio deste edifício compõe-se também de outras peças interessantes e valiosas, nomeadamente alguma ourivesaria (do século XV a setecentos), banquetas barrocas de estanho e várias esculturas em madeira e em pedra, provenientes de igrejas de Alegrete hoje sem culto, em ruínas ou desaparecidas

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